sexta-feira, 6 de maio de 2011

Desabafos do limpa-vias à esposa

Terminado o dia cansativo de trabalho, o limpa-vias chegou a casa amuado e triste. Sentou-se no sofá, pensativo e começou a ler um jornal escrito na sua língua. A sua mulher depois de ter arrumado a cozinha olhou e dirigiu-se ternamente ao esposo:
- O que se passou no teu trabalho? Pareces cansado…
- Estou farto desta vida de pobre. – desabafou aquele homem.
- Eu bem sei que não é agradável passares o dia debruçado sobre a vassoura que varre todo o tipo de sujidade que cai naquele chão imundo. – afirmou Maria Patruska.
- Bem sabes que tinha outro emprego, mas ganhava muito menos e trabalhava mais.
- Eu bem te avisei que estes primeiros tempos seriam difíceis em Nova York.
Os dois calaram-se por instantes e uma lágrima escorreu pelo rosto rechonchudo e claro da Maria. O seu corpo deslizou lentamente pelo sofá, enterrando-se na cova daquele sofá velho.
- Maria, temos que enfrentar os nossos problemas. O que nos serve de salvação neste momento é o arroz calvo, carolino de primeira qualidade. – disse o limpa-vias.
- Tens razão!... - respondeu Maria.
- Não posso desistir deste trabalho, com ele ganho algum dinheiro. Mal conseguimos sustentar os nossos filhos, mas…
- Tem esperança. Depois da tempestade vamos aguentar mais um pouco até conseguirmos equilibrar as nossas finanças. No nosso país, há pessoas bem piores.

Maria Leonor, Nº16, 7ºA

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