sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Conto de Natal

        Naquela noite escura e sombria sem lua e sem estrelas, Anita caminhava sozinha no meio da floresta de pinheiros pontiagudos e gigantescos. Ela estava muito frustrada, pois tinha de andar pelo meio da floresta a fazer tarefas à mãe e ainda por cima na véspera da noite de Natal.

        - É sempre a mesma coisa, na noite de Natal!!! Nós nunca a passamos todos juntos. – Dizia ela, enquanto caminhava apressada pelo meio do caminho cheio de ervas já quase impercetível.
        Anita era uma rapariga muito bonita, com o cabelo loiro aos caracóis. Era muito alegre, mas ficava facilmente aborrecida. Vivia numa casa pequena no meio da floresta e sem grandes condições de vida, pois não tinha saneamento e tinha de se ir buscar a água à fonte da vila.

       Ela vivia só com a sua mãe, pois o seu pai tinha desaparecido, quando ela ainda apenas tinha quatro anos. Contudo ela lembrava-se dele como se ele nunca tivesse desaparecido. Anita não sabia muito bem como ele tinha desaparecido, pois a sua mãe não falava disso com ela, porém soube, por uma tia, que ele desaparecido quando, numa tarde de inverno, foi cortar madeira no bosque e nunca mais voltou. Por isso tudo, o maior desejo de Anita era reencontrar de novo o seu pai.

       Enquanto caminhava, Anita foi ficando menos frustrada e mais assustada, pois já devia ter chegado a casa há muito.

       - Devo estar perdida… Já vi esta pedra três vezes! – Dizia ela para si mesma, enquanto olhava para uma pedra junto a um castanheiro. – Tenho de ficar por esta zona, se não vou afastar-me ainda mais de casa.

       Andou mais alguns passos, até que viu uma gruta na vertente da encosta da montanha. Ela começou por ter algum receio, mas, influenciada pelo frio e depois pela chuva que se fez sentir, entrou. Antes de se aproximar, pegou nalguns paus, enrolou-os, e depois tirou uma caixa de fósforos do bolso do casaco e acendeu-os. Ao entrar na gruta, reparou que estava vazia. Nem um morcego, nem um inseto, nem um bicho de grutas, nem… Ali nada havia, por essa razão tinha menos uma coisa com que se preocupar.

       Ela procurou um lugar para se sentar e encontrou-o a treze metros do início da gruta. Lá estava uma saliência ótima para ela se sentar, pois tinha um bocado de terra no fundo e era direito. Lá, Anita deitou-se e tentou dormir, mas não conseguia, pois os seus pensamentos absorviam-na. Será que voltar a casa no dia seguinte? Como estaria a sua mãe? Por onde vaguearia o seu pai? Ela não acreditava muito em Deus, pois, ao domingo, quando a mãe lhe dizia para ir à eucaristia e à catequese, ela jurava à mãe que ia, mas, na verdade, dava a volta à casa da mãe e ia brincar para o bosque. Nesse momento, ela pensou em todas essas horríveis ações que fez e pela primeira vez na sua vida rezou. No início, Anita sentiu-se estranha, todavia, com o passar do tempo, foi ganhando confiança e começou a sentir-se à vontade para exprimir todos os seus sentimentos.

      - Senhor, sei que… não lhe tenho rezado muito, mas vou tentar… ajude-me a conseguir aguentar esta noite gelada… ajude a minha mãe a passar bem a noite sem mim e por favor, do fundo do meu pequenino coração, ajude-me a encontrar o meu querido paizinho. – Rezava ela a tremer de frio e de fome. – Ámen.

      Depois da oração, ela ficou algum tempo a pensar, na vida e na situação em que se encontrava e logo a seguir deitou-se ao comprido com a barriga para o ar. Fechou os olhos e finalmente conseguiu adormecer. Sonhou que o seu pai estava sentada ao seu lado, sonhou que vivia numa casa melhor e maior do que aquela onde morava, sonhou que andava na escola como os outros meninos e que a sua família vivia rodeada em felicidade e amor.

      Depois, enquanto sonhava com isto, começou a sentir um arrepio pelas costas a cima e acordou sobressaltada. Ainda era noite escura, quando se ergueu. Estava um frio de gelar, por isso não conseguiu adormecer. A cada segundo que passava, Anita sentia-se cada vez mais a desligar-se do corpo e fechar os olhos. De repente sentiu um ar quente a passar por ela e uma luz muito brilhante surgiu do fundo da gruta. Ela, inicialmente, ficou assustada, mas depois ouviu uma voz reconfortante dizer:

      - Anita, esta não será a tua hora, portanto aproveita a oportunidade que te vou dar. Reza todos os dias e nunca percas a fé em ti e em Deus.

      - Mas quem és tu? Porquê eu? Tenho algo de especial? – Perguntou ela.

      - Com o tempo irás descobrir. Adeus, Anita! – Despediu-se a voz.

       E num abrir e fechar de olhos, já a luz brilhante tinha desaparecido e tudo tinha ficado em silêncio. Então Anita, sem conseguir explicar, caiu lentamente na terra e, fechando olhos gentilmente, adormeceu.

       Quando acordou, os raios de sol já lhe aqueciam a cara. Ela bocejou, ergueu-se e gritou, quando olhou para a entrada da gruta e viu um vulto preto. A sua reação instantânea foi a de saltar para trás e dar um grito mais agudo.

       - Não grites! Só te quero ajudar. Vou aproximar-me. – Disse o vulto estranho.

       Quando se aproximou, viu-se um homem, com a barba muito grande, que andava na casa dos quarenta anos. Anita achou-o muito familiar.

        - Quem é você? – Perguntou Anita.

        - Não sei bem… só me lembro de cair numa escarpa e acordar nesta zona, sem me lembrar de nada. Isso foi há oito anos e, desde de essa altura, vivo nesta gruta. E tu, quem és? – Perguntou o homem.

        - Eu…eu perdi-me ontem, durante a noite, e agora quero voltar para casa. – Disse Anita.

       - Queres que te ajude a procura-la? – Inquiriu.

       - Pode ser! – Respondeu ela

       Então o homem ajudou-a a encontrar a casa da pequena rapariga. Procuraram durante duas horas até que finalmente avistaram a casa da Anita.

       Quando chegaram lá, a mãe da Anita estava muito preocupada, mas a rapariga explicou-se e a mãe compreendeu e consentiu.

       - Ó meu Deus! Gregório, és tu?! – Perguntou a mulher, quando olhou para o homem que tinha acabado de entrar.

       - Já me estou a lembrar de tudo. Tu és a minha mulher Graciete e tu a minha querida filha! – Afirmou o homem.

       -Não acredito, paizinho! – Exclamou Anita, saltando para os braços do pai.

       Então, a partir desse dia, Anita aproveitou todos os momentos com o seu pai e a sua mãe. Passou a rezar todos os dias e, ao domingo, levantava-se cedo para ir à eucaristia.

Luís, 8ºA      

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